Ponto de Encontro RTRS 2022 - relatório

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Semeando Espaços em Comum

Ponto de Encontro RTRS

22 de novembro de 2022

Bayer Crop Science Campus, Monheim am Rhein, Alemanha

Parcerias e perspectivas

Apresentações de abertura

A legislação a ser adotada nos principais mercados, as perspectivas do setor de sojada fazenda à prateleira -, as gerações futuras e a agricultura regenerativa foram temas da agenda do evento “Ponto de Encontro 2022” da Associação Internacional de Soja Responsável, intitulado “Semeando Espaços em Comum”.

Representantes de todas as partes da cadeia de valor da soja estiveram presentes para ouvir palestrantes e especialistas no assunto e, claro, fazer networking, trocar ideias e formar novas conexões.

Ao todo, 125 pessoas de 80 organizações e 16 países foram até a sede da Bayer em Monheim am Rhein, nos arredores de Colônia, para participar de uma discussão dinâmica e diversificada, tendo como pano de fundo um dramático bioma interno (Tropicarium) que fez da natureza um recurso presente ao longo do dia.

Frank Terhorst, Vice-Presidente Executivo de Estratégia e Sustentabilidade da Crop Science Division da Bayer, deu as boasvindas aos conferencistas no impressionante local de 65 hectares descrito pela empresa como seu ‘centro de ideias no Reno’. Em suas próprias palavras, o momento não poderia ser mais propício para um evento como este. Ele se referia à COP27, na qual os participantes buscaram compromissos ousados que destacam a importância do sistema alimentar global para tornar o planeta mais sustentável. Ele também lembrou aos participantes que recentemente (em novembro) nasceu a 8

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bilionésima pessoa na Terra, um grande marco. Ele concluiu fazendo referência à necessidade de mais colaboração, mais inovação e uma nova abordagem para que o setor produza mais enquanto consome menos recursos naturais.

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“É com isso que nós da Bayer estamos comprometidos: investir em inovações, novas sementes e culturas e novas soluções digitais e holísticas que nos possibilitarão oferecer um sistema alimentar mais sustentável e eficiente em termos de recursos e dar um passo adiante em direção à agricultura regenerativa”, afirmou Frank.

Escala e impacto

A escala, o papel e o poder de alavancagem da soja como uma das commodities agrícolas mais vitais do mundo foram ressaltados pelo presidente da RTRS, Lieven Callewaert, em sua mensagem de boas-vindas aos participantes do Ponto de Encontro. Ele lembrou aos presentes que um mundo sem árvores e sem natureza seria inabitável e que a saúde do planeta está intimamente ligada à saúde de sua população. Com um aumento significativo na produção e consumo de soja nos últimos 60 anos, o impacto sobre a natureza aumentou drasticamente. A produção sustentável e responsável da soja tem o potencial de fazer uma enorme diferença para o futuro do nosso planeta.

“Quando comecei a trabalhar com a RTRS em 2014, tínhamos 500.000 toneladas de soja certificada; hoje são 5 milhões, um aumento de dez vezes”, afirmou. “Este é um produto de nicho? Eu acho que não. O percentual de produção certificada em escala global é baixo. No entanto, em alguns estados localizados em biomas críticos – por exemplo, o Maranhão, no Cerrado brasileiro – quase 30% da área plantada com soja hoje em dia tem certificação RTRS, e é aí que nossa força transformadora para a sustentabilidade é mais necessária”.

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Em seu discurso de abertura, Lieven também falou sobre o assunto principal da manhã: as novas legislações a ser adotadas na União Europeia (UE) e no Reino Unido (RU), que responsabilizarão as empresas por qualquer desmatamento em suas cadeias de suprimentos e exigirão uma abordagem de diligência prévia (due diligence) para garantir que apenas a soja verificada e livre de desmatamento chegue ao mercado europeu.

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“Nosso papel como parceria entre todas as partes interessadas é igualmente importante. Podemos semear um espaço em comum se trabalharmos juntos ”, concluiu Lieven.
“A Comissão Europeia está pedindo garantias credíveis. O nosso padrão é holístico. Também é um padrão social e forte em matéria de boas práticas agrícolas.”

Um novo panorama

Regulamentação sobre produtos livres de desmatamento; as novas regras da UE referentes a commodities

No cerne do Green Deal, “as estratégias de Biodiversidade e ‘da fazenda ao garfo’ (Farm-to-Fork) apontam para um novo e aprimorado equilíbrio entre a natureza, os sistemas alimentares e a biodiversidade ao visar proteger a saúde e o bem-estar das pessoas, deixando a UE mais competitiva e resiliente. Essas estratégias são parte fundamental da grande transição em que estamos embarcando”, afirmou Frans Timmermans, Vice-Presidente Executivo da Comissão Europeia, em 2020. Desde então, a jornada tem prosseguido.

Em outubro de 2020, o Parlamento Europeu decidiu focar ações regulatórias para enfrentar as consequências do consumo na UE sobre o desmatamento global; solicitou, portanto, à Comissão Europeia que

propusesse um marco jurídico baseado em requisitos obrigatórios de diligência prévia para empresas que levam commodities e produtos derivados com risco florestal e ecossistêmico para os mercados da UE.

Na parte inicial da primeira sessão, Eva Maria Bille, Diretora de Contas da Hill Knowlton Strategies Bruxelas, explicou que esse cenário está em constante mutação. Eva, revê para o público que em novembro de 2021, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para combater o desmatamento e a degradação florestal relacionados a commodities e produtos específicos colocados à venda nos mercados da UE ou exportados a partir desses mercados. As regras propostas visam conter o desmatamento e a degradação

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florestal motivados pela expansão de terras agrícolas para a produção de determinadas commodities: gado, cacau, café, óleo de palma, soja e madeira.

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“O desmatamento é uma das principais causas das emissões de carbono e da perda de biodiversidade e é isso que motiva a ação legislativa.”
“Entendemos que cada vez mais atenção está sendo destinada ao desmatamento e à degradação”, disse Diego Torres, Policy Officer da Comissão Europeia, no Ponto de Encontro RTRS na Alemanha.
“Há cobertura da mídia, pesquisadores acadêmicos estão analisando as causas e os efeitos e a atenção das ONGs está voltada para os legisladores e formuladores de políticas.”

Não tem mais volta

Diego Torres faz parte da equipe que trabalha nos novos regulamentos da UE sobre desmatamento e agora está ajudando a encaminhar esses regulamentos através dos procedimentos legislativos da UE. Ele falou na primeira sessão matinal do Ponto de Encontro 2022 da RTRS, facilitada por Eva Bille da Hill Knowlton Strategies e com a participação também de Ali Siddiqui, do Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais (DEFRA) do Reino Unido, e de David D’Hollander, da Aliança ISEAL.

diligência prévia de suas respectivas cadeias de suprimentos. A diligência prévia será obrigatória nas novas regras independentemente de o desmatamento ser legal ou ilegal no país de origem. Às vezes pode ser complicado e demorado para as empresas reconhecerem e exercerem a diligência prévia. Torres enfatizou que a União Europeia trabalhará para apoiar as empresas impactadas, mas serão necessárias ações rigorosas de diligência e rastreabilidade.

Torres descreveu aos participantes o que podem esperar da legislação quando ela entrar em vigor, além do efeito transformadorda nova legislação em mercados como o da soja. A legislação proposta obrigará as empresas que trazem soja para o mercado europeu a fazer a

O cronograma é importante para uma legislação desta natureza. A primeira versão foi informada em novembro do ano passado e o texto final está sendo elaborado de modo a incorporar as emendas sugeridas pelo Conselho e Parlamento Europeus. O objetivo é chegar-se a um acordo político até o final de 2022 ou início de 2023 (um acordo político preliminar entre o Conselho e Parlamento Europeus foi, de fato, firmado no dia 6 de dezembro) e a legislação deverá entrar em pleno vigor até o final de 2024.

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“Não tem mais volta”, ele afirmou. “Os setores da indústria e as empresas que tiverem os compromissos de desmatamento e sistemas de rastreabilidade mais avançados serão os vencedores dessa nova fase.”
“As empresas terão que conhecer a procedência de suas culturas agrícolas”, concluiu.

Em sua parte, Ali Siddiqui da Defra descreveu a forma como o Reino Unido introduziu mecanismos para ajudar a combater o desmatamento ilegal na Lei do Meio Ambiente aprovada pelo Reino Unido pouco antes de o país sediar a COP26.

Segundo Siddiqui, no âmbito da legislação o governo do Reino Unido apoiará as empresas e adotará o conceito de parcerias.

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“A Lei diz que é ilegal grandes empresas do Reino Unido usarem commodities agrícolas importantes se essas commodities originarem de áreas ilegalmente desmatadas”, disse ele. “A transparência e a construção em cima de padrões e certificações existentes serão absolutamente essenciais.”

Padrões e certificações

Um parceiro que tem estado muito próximo da legislação emergente é a ISEAL, uma ONG internacional de associados que apoia os atores de uma ampla gama de setores no desenvolvimento de sistemas de padrões confiáveis em prol da sustentabilidade nas cadeias de suprimentos e práticas comerciais.

David D’Hollander, Gerente de Políticas e Inovações da ISEAL, disse aos participantes do Ponto de Encontro que a ISEAL apoia a legislação da UE e que os sistemas e padrões de certificação nas cadeias de suprimentos teriam um papel vital para que os atores da cadeia de suprimentos possam enfrentar os novos desafios regulatórios.

De acordo com David, padrões globais como o da RTRS têm o potencial de “suavizar” as inconsistências entre as diversas regulamentações de países diferentes, fazendo com que a conformidade e a diligência prévia sejam muito mais fáceis de implementar. Além disso, padrões desenvolvidos por meio de parcerias coletivas com várias partes interessadas ajudam a fomentar mudanças e a conscientizar sobre o fato de que a legislação

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“Acreditamos que os padrões e sistemas de certificação, se forem confiáveis, podem ajudar a garantir a conformidade e a informar sobre ela. Também podem ajudar a indicar a redução de riscos por parte de empresas que buscam a conformidade.”
“Iniciativas voluntárias por si só não trazem o ímpeto de que precisamos”, disse ele.
“Elas, no entanto, vão além do mínimo legal e podem se concentrar em um conjunto mais amplo de temas, como direitos humanos, questões sociais e desmatamento.”

está a caminho, além de o que ela significará para todos os atores envolvidos nas cadeias de suprimentos de commodities.

Segundo o painel de especialistas, o próximo ano trará mais clareza em relação ao papel da certificação em matéria de diligência prévia. Na opinião de David, os sistemas de certificação serão um indicador - e não uma prova - de conformidade, mas há

Para Torres, a posição da UE é de que as empresas poderão usar sistemas de certificação se elas atenderem a certos critérios, principalmente em relação à rastreabilidade, e incluírem modelos de cadeia de custódia. As empresas serão responsabilizadas pela reprovação em qualquer teste de conformidade; deve haver rastreabilidade física da soja introduzida no mercado. Ele concluiu: “isso

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“um forte argumento para que os formuladores de políticas teçam orientações claras sobre quais ferramentas as empresas poderão usar para atingir a conformidade.”
significa que as abordagens de balanço de massa, do jeito que estão agora, não serão permitidas”.

Impacto global

Segundo a ISEAL, as novas regras na Europa terão um impacto muito mais amplo. Poderse-ia imaginar que os compradores de soja irão simplesmente optar por não comprar soja de áreas de maior risco, mas essa seria uma medida ineficaz na luta global contra o desmatamento, ponderou David.

Uma questão central explorada pelos participantes do painel na primeira sessão do Ponto de Encontro foi o alinhamento entre os regulamentos emergentes da UE e do Reino Unido. Embora não haja um compromisso concreto no sentido de alinhamento total, Siddiqui mencionou que o Reino Unido desenvolveu o plano para trabalhar em parceria com os parceiros europeus em um compromisso compartilhado com cadeias de suprimentos livres de desmatamento.

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“No final das contas, é importante lembrar que as empresas europeias e britânicas também são empresas globais”, disse. “Ao repensar suas cadeias de suprimentos, as empresas devem manter o foco no desmatamento globalsó assim elas terão um impacto verdadeiramente global.”

Essas foram as palavras de Michel Santos, Diretor Sênior de Sustentabilidade Global da Bunge, ao abrir a segunda sessão, desta vez focada em como a cadeia de suprimentos global - do produtor ao processador e ao mercado - pode se adaptar e evoluir em resposta às legislações da UE e do Reino Unido.

Michel recapitulou a jornada da Bunge com a RTRS desde seu início, em 2005/6, até se tornar uma força dominante de mudança:

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A cadeia de suprimentos expôs sua opinião
“Hoje temos a RTRS como principal plataforma para entregar produtos responsáveis ao mercado, apoiar os agricultores e construir uma ponte para os consumidores finais”, ele resumiu.
“Acreditamos que a RTRS é a plataforma certa para incentivar a conformidade e que temos um processo de certificação aceito pelo mercado; essa é a melhor maneira de ajudar os agricultores a evoluir.”

Natalie Lecocq, Diretora Geral da FEDIOL, entidade que representa a indústria europeia de óleos vegetais e farelo proteico, participou do painel da indústria para refletir sobre a nova legislação.

“Do ponto de vista de nosso setor, apoiamos a legislação da UE”, ela disse. “O principal desafio será cumprir os requisitos de rastreabilidade e cadeia de custódia. Alcançar a conformidade exigirá mudanças e investimentosprincipalmente em logística - e será um trabalho complexo em muitas regiões produtoras. Isso reduzirá consideravelmente as opções de fornecimento e, no melhor dos casos, também aumentará os custos.”

Ela informou aos participantes que a UE “tem a vara, mas não dá a cenoura”. “Existem algumas poucas iniciativas relacionadas a parcerias e incentivos; esperamos que haja medidas de acompanhamento disponíveis para apoiar as mudanças necessárias.”

O risco de o aumento dos custos reduzir os lucros e impactar os produtores também foi mencionado por outros palestrantes do painel. Daniel Furlan Amaral, EconomistaChefe da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) no Brasil, fez essa observação em seu discurso de abertura.

“O principal motivador do desmatamento é a pobreza”, ele alertou. “Se quisermos acabar com o desmatamento, precisamos de boas e fortes parcerias bilaterais.”

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Essa abordagem de parceria se provou certeira em sua experiência com a moratória da soja no Brasil, na qual um sistema baseado em parcerias e transparência conseguiu fornecer soja em situação de conformidade e por um custo razoável.

Alejandro O’Donnell, Vice-Diretor do Programa Internacional Aapresid na Argentina, compartilhou a perspectiva do agricultor com base nos temas “combinados” de aumento de custos e de uma abordagem de parcerias na qual os custos são rateados pela cadeia de suprimentos e não concentrados apenas no ponto de produção.

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“O desafio é produzir mais alimentos com menos recursos – ou pelo menos com a mesma quantidade de recursos que usamos hoje”, ele afirmou. “A única maneira de fazer isso é com mais conhecimentos, pesquisa e colaboração.”

O apelo à colaboração foi fortemente endossado por Hermann-Josef Baaken, Diretor Administrativo da Associação Alemã de Rações.

Gustavo Idigoras, presidente da Câmara da Indústria de Petróleo e Centro de Exportadores de Cereais da Argentina (CIARA-CEC), disse que os relatórios, verificações e certificações aumentariam os custos de se chegar até o mercado europeu. Ele também disse que é fundamental que a UE reconheça os sistemas e regulamentos das cadeias de valor dos países de origem. Daniel informou aos participantes que, no Brasil, ainda falta muita infraestrutura para segregar toda a soja destinada ao mercado europeu.

Hermann também reiterou os comentários de outros membros do painel ao dizer que a certificação terá o papel de proporcionar rastreabilidade ao modelo de cadeia de custódia.

No painel, as experiências dos representantes das comunidades de produtores e comerciantes enfatizaram a necessidade de levar o aumento dos custos em consideração.

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Um apelo à colaboração e ao investimento
“É importante entendermos as perspectivas de diferentes parceiros em toda a cadeia de valor”, disse ele aos participantes. “Precisamos de muita colaboração. Se o custo aumentar, ele precisará ser compartilhado por toda a cadeia; temos que trabalhar nisso.”
“Talvez precisemos de novos silos e unidades de processamento. Se precisarmos criar toda uma nova infraestrutura apenas para vender para o mercado europeu, esse será um investimento extremamente volumoso e que precisará ser compartilhado”.

Novos mercados, novos modelos

As sessões do Ponto de Encontro sobre a nova legislação da UE foram encerradas, em nome da RTRS, por Evert Raymakers, Gerente Europeu de Divulgação da RTRS, e por Natalie Sluggett da Peterson Projects, consultora que trabalha com a RTRS na adaptação estratégica da Associação à legislação futura da UE.

Para a RTRS, a resposta à legislação da UE precisará de um padrão reformulado de Cadeia de Custódia que, de acordo com a RTRS, “apoiará todos na cadeia de suprimentos que precisarem cumprir a legislação futura.”

A RTRS visa consolidar sua posição na Europa. A Europa tem sido o mercado global líder em sustentabilidade e responsabilidade em relação a commodities. A região também tem sido uma importante fonte de demanda material certificado RTRS e, como tal,

tem ajudado a apoiar o desenvolvimento das ferramentas que agora estão sendo reformuladas.

O plano que a RTRS está desenvolvendo gostaria de ver um padrão capaz de trazer volumes maiores - tanto de soja certificada RTRS quanto de soja verificada e livre de desmatamento (e, potencialmente, também livre de conversão) - para o mercado. A RTRS se concentrará e alavancará as parcerias e os sistemas e estruturas de garantia que são exclusivos da RTRS como um dos principais atores de soja sustentável no mercado há mais de 15 anos e com base em sua abordagem global com múltiplas partes interessadas.

Ciente da “mudança de paradigma” imposta pelas novas regras - principalmente na Europa, mas também mundialmente - a RTRS está trabalhando com produtores,

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associações setoriais, sociedade civil, instituições financeiras e governos para reformular suas ofertas para a Europa e garantir que sistemas robustos de certificação possam ser uma ferramenta útil no cumprimento dos requisitos de diligência prévia previstos na nova legislação europeia.

Natalie informou aos participantes que sua equipe na Peterson passou os últimos 12 meses apoiando e trabalhando com a RTRS na reformulação da Cadeia de Custódia e, ao mesmo tempo, também em um novo modelo RTRS para contemplar a nova legislação. Ela disse aos participantes que o novo modelo tende a manter e incluir (i) o valor existente de soja certificada RTRS (desmatamento zero a partir de 2009 e conversão zero a partir de 20161), atendendo aos altos padrões atuais da RTRS – ou seja, 108 indicadores holísticos (jurídicos, econômicos, sociais e ambientais)

e (ii) também incluirá soja verificada que é rastreável e comprovadamente livre de desmatamento2 (e, potencialmente, também livre de conversão).

Outras ferramentas da RTRS, como a Calculadora de Pegada de Soja e Milho, também terão suas funções, e a visão é de uma plataforma online capaz de apoiar a rastreabilidade e a adoção por parte do mercado. Todas essas ferramentas serão anunciadas oportunamente em 2023-2024, com atividades piloto realizadas como uma iniciativa de co-construção de mercado e testes antes da entrada em vigor da legislação europeia, daqui a cerca de dois anos. Observou-se que a atual estratégia de desenvolvimento da RTRS envolve um padrão e um modelo progressivos que podem continuar mudando com base nos diálogos da cadeia de suprimentos e à medida que a legislação entrar em vigor.

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1. As datas-limite da RTRS são 2009 para desmatamento e 2016 para conversão. 2 A data-limite estimada do Regulamento da UE seria 2020.
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ReGerações Futuras

A RTRS destaca os jovens e a agricultura sustentável

À medida que os sistemas alimentares vão mudando em resposta às pressões ambientais, preocupações sociais, novas tecnologias e demandas dos consumidores, uma nova geração de tomadores de decisão e pensadores em breve tomarão a frente para garantir um futuro mais responsável e sustentável para as commodities mais importantes (como a soja) antes que os principais limites planetários sejam ultrapassados.

No Ponto de Encontro RTRS houve também uma sessão interativa de ‘contação de histórias’, uma oportunidade para os participantes ouvirem as vozes dos jovens e aprenderem sobre suas perspectivas para o futuro. Os três jovens que subiram ao palco têm origens na produção, negócios e sociedade civil; eles discutiram com os participantes as suas perspectivas sobre o futuro da soja responsável e os papéis que todos devem desempenhar no desenvolvimento de sistemas alimentares

mais responsáveis e prósperos.

A sessão foi moderada por Nele Hermann Valente, que lidera o compromisso global NextGen Agricultural Leaders da Bayer Crop Science e faz parte da equipe de Assuntos com Partes Interessadas e Parcerias Estratégicas (SASP, Stakeholder Affairs & Strategic Partnerships) da empresa. Ela foi acompanhada por Walter Fraanje, Diretor de Pesquisa e Comunicações da Table Debates no Reino Unido; Ingrid Caron Graziano, Acadêmica da Nuffield Farming & Coordenadora de Sustentabilidade para a América Latina da Cargill no Brasil, e que também ajuda a administrar uma operação familiar na área da pecuária; e Silke Remmits, Gerente de Projetos da I4NATURE, cooperativa holandesa que fomenta a participação de jovens no setor agroalimentar por meio de pesquisas, eventos e projetos de consultoria. Ingrid e Silke também são embaixadoras da NextGen Ag Impact Network (NGIN) e Silke

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atualmente também preside esse grupo global de jovens pensadores e inovadores que estão ativamente envolvidos na transformação do setor agroalimentar sustentável.

Os três jovens trabalharam em três grupos temáticos nos quais os participantes foram divididos, com focos em mudança, responsabilidade e sistemas. Ao descrever sua conversa, o “grupo de mudança” destacou dois principais padrões emergentes: o desejo de abertura e transparência a partir das gerações mais velhas com as gerações mais novas; e a necessidade de reconhecer que as gerações mais jovens desejam um futuro mais responsável. O “grupo de responsabilidade” concluiu que as gerações mais jovens querem assumir responsabilidades e deveres; elas querem ser ouvidas nesse processo. Levar os jovens a sério é fundamental para causar um impacto palpável e contribuir para a sustentabilidade. Por fim, o “grupo de sistemas” falou sobre as gerações mais velhas, principalmente nas fazendas, e sobre a necessidade de abrirse espaço para que as mudanças ocorram, para que os jovens se tornem líderes de sucesso e para que trabalhem por mais sustentabilidade.

Para Ingrid, a conclusão é de que

Para Walter, a conclusão foi que “não há necessidade

Por fim, Silke destacou o fato de que as pessoas realmente estão assumindo mais responsabilidades e contribuindo tanto para o pensamento global quanto para ações locais. Em sua opinião, é evidente que pode haver uma mudança progressiva se as corporações e governos globais optarem por incluir os jovens nas decisões sobre o futuro da agricultura.

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“precisamos entender que a mudança não poderá ficar unicamente nas mãos das gerações futuras; deve haver um alinhamento de expectativas entre as gerações e todos os atores da sociedade e da economia, incluindo comunidades, vizinhos,
empresas, consumidores e outros grupos. A quem devemos nos reportar em relação às mudanças ou propostas de mudanças? Devemos manter os canais de diálogo abertos e aprofundar a compreensão mútua entre as partes interessadas.”
de uma cisão entre a conservação da natureza e a agricultura” e que “deve haver uma maneira, no modelo de negócios, de compensar os agricultores e recompensálos pela prestação de serviços ecossistêmicos.”

Coalizão de interesses

Diversas rotas de impacto

As ações em prol da soja responsável costumam ser atividades baseadas em parcerias; por isso, uma importante sessão na tarde do Ponto de Encontro RTRS 2022 foi dedicada à apresentação do valor agregado por setores e atores que trabalham juntos em uma ampla gama de ferramentas e abordagens, em cenários diversos e também na cadeia de valor da soja como um todo.

A sessão foi moderada por Heleen van den Hombergh - da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e também Coordenadora da Collaborative Soy Initiative (CSI) – e contou com a participação de Michel Santos, Diretor Sênior de Sustentabilidade Global da Bunge; Benjamim Mohr, Líder de Equipe da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit - GIZ; Ulises Martínez Ortiz, Professor da Universidade de Buenos Aires -UBA e Assessor da Fundación Vida Silvestre

Argentina - FVSA; e Susanne Fromwald, Assessora Sênior e Gerente de Projetos da Donau Soja.

Um tema central da sessão foi o papel da RTRS como ponto focal e facilitadora, por reunir todos os atores do setor da soja, incentivar a demanda, entregar a produção e possibilitar avanços em tecnologia, inteligência e estratégia em prol da soja responsável. A RTRS também é cofundadora da CSI, uma estrutura colaborativa cuja missão é informar as partes interessadas sobre ações em andamento, facilitar o alinhamento entre iniciativas e ações de partes interessadas e realizar ações novas e relevantes para alcançar um impacto genuíno em um setor díspar e global.

Heleen abriu a sessão falando da necessidade de continuarmos trabalhando para “unir as nossas forças e as nossas redes”

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e garantir que existam várias rotas para atingir um impacto positivo na conservação e na produção responsável.

Trabalhando em prol de uma visão de produção e adoção de soja sustentável e 100% livre de conversão em escala global, a CSI comentou sobre o valor agregado pelas abordagens voluntárias e sobre o poder de combinar i) sistemas robustos de certificação; ii) a moratória em todo o bioma; iii) a abordagem de fornecedor limpo; e iv) iniciativas paisagísticas/jurisdicionais, só para citar alguns exemplos.

Um desafio importante destacado por Heleen é a necessidade de evoluir a abordagem estabelecida de padrões voluntários com ferramentas para que ela se torne parte das soluções sistêmicas para novos regulamentos na UE e no Reino

Ela questionou os participantes:

Ulisses apresentou o Projeto Soy Chaco, um grande projeto que envolve a Fundación Vida Silvestre Argentina (FVSA), IUCN NL, Rede Solidaridad, Cefetra e Dutch Dairy. Seu foco é a produção responsável de soja na ecorregião argentina do Gran Chaco, onde foi montado um sistema para incentivar práticas sustentáveis - incluindo a certificação RTRS - entre os produtores. O projeto busca fazer com que a região tenha o que Ulises descreveu como “um impacto visível”, orientando incentivos por meio do sistema de créditos em apoio à soja responsável, aumentando a demanda por soja responsável proveniente da região do Chaco e, mais especificamente, firmando acordos de longo prazo com os produtores locais e apoiando e incentivando os produtores a adotarem práticas sustentáveis de produção de soja certificada. Como resultado, o projeto espera não apenas o aumento da produção responsável, mas também criar um vínculo direto entre os compradores de produtos de soja responsável e as atividades de conservação e

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Unido:
“o que fazer para os ‘mundos voluntário e obrigatório’ andarem de mãos dadas na prática e da melhor forma possível?”

restauração nessa região ameaçada, ao passo que trabalha em prol de uma cadeia de suprimentos física.

Em seguida, a conversa se voltou para o trabalho da Donau Soja, uma organização europeia independente, multissetorial e sem fins lucrativos apoiada pela Agência Austríaca de Desenvolvimento, com mais de 300 membros em 25 países e apoio de 24 governos, bem como outras partes interessadas de toda a cadeia de suprimentos. A Assessora Sênior Susana disse aos participantes que a ‘visão mais ampla’ era contribuir para um sistema agroalimentar global mais equilibrado e apoiar a Transição Proteica por meio da implementação de uma estratégia de proteína para toda a Europa pautada por cinco pilares principais:

Um – Garantir que as importações de soja/ proteína sejam de fontes sustentáveis e responsáveis

Dois – Aumentar a produção sustentável de soja/proteína na Europa para a própria Europa

Três – Diversificar fontes de proteína novas e já existentes

Quatro – Aumentar a eficiência do uso de proteínas

Cinco – Transicionar para dietas mais saudáveis/aumentar o consumo de proteínas vegetais

Claramente, o primeiro passo da estratégia está fortemente alinhado com sistemas robustos de certificação, como a RTRS e a Pro Terra. Ela afirmou que cerca de 22% do consumo europeu de soja provêm da própria Europa, mas a produção dobrou nos últimos 10 anos. Susana ressaltou que a Ucrânia é o país que apresenta o maior potencial, tanto em aumento de volumes quanto em parâmetros de sustentabilidade. Sua produção de soja se mantém apesar da guerra, ocupando o 1° lugar na Europa e 8° no mundo. A Donau Soja realizou mais de 20 projetos da Protein Partnership em 2022 com o intuito de aumentar a produção sustentável de soja na Europa para a própria Europa.

Michel complementou a breve introdução que havia feito no início do dia sobre a abordagem da Bunge em relação à certificação e a atingir a meta de desmatamento zero até 2025. A Bunge já superou suas metas de não desmatamento em relação ao monitoramento e rastreabilidade das lavouras de soja de sua cadeia de suprimentos indireta no Cerrado e, por meio da Bunge Sustainable Partnerships, já consegue monitorar pelo menos 64% dos volumes indiretos em regiões prioritárias, superando, portanto, a meta definida para 2022.

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ele disse aos participantes. A prioridade continua sendo o engajamento dos agricultores e seus pares e o trabalho árduo dedicado à certificação, produção e cadeia de custódia da RTRS, que abrange mais de 200 atores diversos. Eles também estão trabalhando em nível de paisagem para intensificar o impacto em nível regional e, por meio do Soft Commodities Forum, estão lançando uma iniciativa que apoiará diretamente os agricultores para prevenir a reincidência do desmatamento.

Benjamim Mohr da GIZ disse que sua iniciativa “é receptiva aos padrões voluntários” e reiterou que plataformas e iniciativas multipartes como a RTRS criam um espaço vital para a cadeia de valor fortalecer os laços de confiança e criar verdadeiras ‘coalizões de interesses.’

Benjamin falou sobre o programa global alemão focado em ‘Sustentabilidade e Valor Agregado em Cadeias de Suprimentos Agrícolas’ que atua em 20 países nas áreas de sustentabilidade ambiental, resiliência

climática, melhores condições de trabalho e maior responsabilidade corporativa. Com duração até 2027, o programa adota uma abordagem dupla no Brasil: em cadeias produtivas e em territórios específicos como o Cerrado, no estado do Maranhão. Ele se referiu às ações compartilhadas e conjuntas em toda a cadeia de suprimentos como um ‘corredor verde’ que se estende do campo até as prateleiras, muitas das quais são conduzidas em parceria com a RTRS.

Os padrões voluntários, disse ele, são alavancas importantes e parte da solução para o alinhamento da cadeia de suprimentos num momento em que há um fortalecimento das regras em apoio a esforços ambientais globais, principalmente em vista da futura Lei de Diligência Prévia e do Regulamento sobre cadeias de suprimentos livres de desmatamento da UE. É essencial que haja uma ‘combinação inteligente’ de medidas – ou seja, regulamentos, certificações e incentivos financeiros – para gerar ações transformadoras, disse ele aos participantes do Ponto de Encontro.

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“Sabemos onde estamos”,

Respeitando a terra e colhendo os frutos

Alinhando os padrões RTRS à agricultura regenerativa

A agricultura regenerativa tem inúmeras definições, mas todas se concentram em práticas agrícolas (incluindo o pastoreio) que melhoram a saúde e a biodiversidade do solo, dão a devida atenção à sustentabilidade do ciclo hídrico e podem ajudar a sequestrar carbono em solos que não são mais degradados por lavoura incessante e uso excessivo de fertilizantes. .

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Padrões e práticas

Para os proprietários de padrões alimentares importantes - como a RTRS e seu padrão de produção responsável de soja (e milho)essa tendência crescente suscita claramente a questão do nível de alinhamento dos padrões às abordagens regenerativas, e se eles atuam em prol de medidas ambientais mais elevadas e melhores práticas.

Por considerar prioritário esse alinhamento, a RTRS encomendou uma avaliação da Peterson Project Solutions para entender melhor as abordagens da agricultura regenerativa e compará-las aos princípios e critérios do atual Padrão RTRS de Produção de Soja Responsável, identificando até que ponto o padrão já definido pela RTRS pode estar promovendo e apoiando práticas regenerativas. Este trabalho foi o foco do último painel de discussão do Ponto de Encontro RTRS ‘Semeando Espaços em Comum’ na Alemanha.

O painel foi moderado por Kobus Pienar, Gerente Técnico da Woolworths South Africa, e contou com a participação de Gisela Introvini, Superintendente da Fundação de Apoio a Pesquisa do Corredor de Exportação Norte (FAPCEN) no Brasil; Pramel Gupta, Diretor de Agricultura Regenerativa da

GREEN Foundation na Índia; Enrique Molas, Consultor de Sustentabilidade e representante de produtores de soja no Paraguai; Rodrigo Arrelaga Sosa, da Corporação Agrícola do Paraguai (PAYCO); e Robert Stam, Diretor Regional da Peterson Project Solutions.

afirmou Kobus ao abrir a sessão. “Definiremos uma maneira para a agricultura regenerativa agregar valor à RTRS; isso faz parte da Estratégia ‘Beyond 2020’ da Associação. O nosso objetivo é entender melhor

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“Estamos realizando testes com a agricultura regenerativa na África do Sul há 14 anos e ainda não temos todas as respostas”,
o que a agricultura regenerativa significa e explorar as contribuições do padrão de

Houve um forte consenso dos produtores no painel de que muitas de suas práticas já podem ser vistas como plenamente alinhadas à agricultura regenerativa. Segundo Rodrigo, um bom estudo de caso é a Fazenda Golondrina, na Mata Atlântica do Alto Paraná (Paraguai), com 24.000 hectares de extensão. Eles já adotam práticas agrícolas que seriam imediatamente reconhecidas como agricultura regenerativa.

A fazenda está trabalhando para reduzir drasticamente os insumos químicos e também está atuando com os povos indígenas de uma reserva florestal dedicada, ao mesmo tempo que apoia as comunidades indígenas de diversas formas. Primeiro, a PAYCO contrata membros das comunidades como funcionários permanentes, atuando como Guardas de Recursos da Reserva. Segundo, a Fazenda oferece apoio técnico em programas de produção que incluem itens produzidos pela comunidade indígena e comercializados para geração de renda ou autoconsumo, como a erva-mate e o mel.

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certificação RTRS para a Agricultura Regenerativa para, no final das contas, agregar valor à soja RTRS.”
“Estamos falando de captura de carbono, aumento da biodiversidade, redução do uso de produtos químicos, rotação de culturas, retenção de água, aumento da atividade microbiana, melhor controle biológico de pragas e doenças de plantas e, claro, saúde e fertilidade do solo”, disse Rodrigo. “A fazenda faz uso reduzido de lavoura e o solo não fica nu. A água da chuva não leva embora o material do solo.”

Quanto do Padrão RTRS poderia ser dito ser agricultura regenerativa?

Uma avaliação inicial e inédita foi apresentada pela Peterson no Ponto de Encontro, proporcionando uma oportunidade única para os participantes verem quanto do padrão RTRS poderia ser considerado agricultura regenerativa.

A análise atreleu os 108 critérios do padrão RTRS a cerca de uma dúzia de práticas que compõem a essência da agricultura regenerativa: biodiversidade, prevenção do desmatamento, conservação de habitats naturais, uso de fertilizantes e pesticidas, adoção de culturas de cobertura, manejo da lavoura, rotação de culturas, reflorestamento, aplicação de esterco/adubo, amostragem de solo, prevenção da poluição, energia

renovável, verificação de emissões de gases de efeito estufa, cultivo intercalar e irrigação.

A análise revelou que o padrão atual da RTRS inclui um número considerável de práticas agrícolas regenerativas, o que significa um alinhamento próximo em muitas áreas, e que, com mais desenvolvimento, esse alinhamento pode ser ainda mais forte. Também houve forte alinhamento em termos de emissões de gases de efeito estufa, biodiversidade e interrupção do desmatamento, enquanto outras áreas - por exemplo, cultivo intercalar, coleta de água da chuva e outros métodos de irrigação - ainda podem melhorar.

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Em campo

Gisela Introvini da FAPCEN levou os participantes “ao campo” ao mostrar que a produção de soja responsável pode e deve ser vista como protagonista de qualquer prática agrícola verdadeiramente regenerativa.

Gisela destacou os desafios de implementar a certificação RTRS em propriedades rurais e a necessidade de estar sempre quebrando paradigmas para conseguir mudar atitudes e hábitos; ela também enfatizou que esse processo leva tempo. Para que os produtores entendam a necessidade da adesão voluntária, devemos lançar mão de outras ferramentas, como a organização de grandes eventos e visitas de campo, e ter parceiros unidos nessa visão global. As informações e tecnologias devem ser compartilhadas com todos.

Reforçando esse ponto, o trabalho realizado em várias propriedades rurais certificadas pela FAPCEN demonstra que os padrões de produção RTRS promovem, de fato, a agricultura regenerativa. Alguns exemplos incluem: a palha que é deixada no solo por causa do plantio direto, com rotações de culturas e reestruturações para a captura de carbono e a diminuição do uso de agrotóxicos. Na safra de 2021/2022, a média das fazendas foi de 13 aplicações de agrotóxicos; já nas fazendas certificadas, foi

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“Sim, precisamos produzir alimentos porque o nosso foco é a segurança alimentar e o enfrentamento do aumento populacional que nós e as gerações futuras vivenciaremos.
Também precisamos preservar o nosso bioma e o nosso planeta”, ela afirmou. “Devemos olhar além do desmatamento zero que já temos. Precisamos aumentar a produtividade vertical que acontece em nossas fazendas certificadas, onde já produzimos soja, milho,
carne e pasto para animais, além de protegermos a floresta e capturarmos carbono.”

de apenas 5,9 aplicações. Outro exemplo foi o fato de 100% das fazendas certificadas pela FAPCEN terem aumentado o uso de biofábricas de produtos biológicos. Pretendemos reduzir o uso de agrotóxicos e só utilizá-los quando for adequado (como o glifosato, sempre na dosagem correta e com o número de aplicações definido pelo fabricante).

Gisela ressaltou a necessidade de agregar mais valor às práticas agrícolas sustentáveis e à soja certificada RTRS no campo, e de agregar valor aos Créditos RTRS Apoiando a Soja Responsável adotados por empresas na Europa em termos de impacto ambiental e social. “O que os produtores recebem pela produção certificada é reinvestido na terra para manter o nosso trabalho sustentável.

A Agricultura Regenerativa também trata de aspectos sociais. Sem conhecimento, conscientização e envolvimento, não é possível implementar boas práticas agrícolas ou regenerativas.

explicou Gisela. Depois dos princípios e critérios da RTRS, Gisela falou sobre parcerias importantes e voltou o foco para a Associação das Mulheres do Agro (AMAO), que interage com outros profissionais e trabalha em conjunto com as mulheres das comunidades para definir as principais necessidades em termos de diversificação alimentar, manejo do fogo, preservação dos rios e produtos do Cerrado. Outro caso é a Associação dos Profissionais da Área de Recursos Humanos (RHSULMA), criada para cumprir com a complexa legislação trabalhista e ambiental brasileira.

Realizamos grandes eventos e viagens de campo entre as comunidades as comunidades porque precisamos conscientizar. As diferenças sociais sérias e persistentes causadas pela falta de oportunidades e de conhecimento são as nossas piores inimigas”, Gisela concluiu.

“Nós demonstramos o que somos e o que fazemos no Cerrado brasileiro. De fato, somos um grande fornecedor de soja sustentável e, ao mesmo tempo, preservamos. Plantamos e colhemos alimentos, promovemos o bem-estar social com geração de emprego e renda e, principalmente, estamos no caminho certo para atender às futuras gerações.”

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“Usamos agroquímicos nas doses certas e conforme a recomendação de especialistas”, disse Gisela.
“É uma questão de mentalidade e de paradigmas”,
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Encerramento e até breve!

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“Esta foi uma jornada excepcional. Houve muito aprendizado e trabalho conjunto, experiências culturais e compreensão mútua”, afirmou Marcelo Visconti, Diretor Executivo da RTRS. Ele concluiu: “Esta é uma expressão das múltiplas oportunidades que temos à frente para fortalecer a colaboração.”
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Prata
Um agradecimento especial a nossos patrocinadores pelo apoio e acompanhamento neste reencontro, o Ponto de Encontro RTRS 2022, na Alemanha.
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