Caetano Veloso fecha trilogia com a banda Cê

caetano 2O álbum “Abraçaço” representou o fechamento da trilogia iniciada com “Cê” (2006), no qual Caetano se cercou de uma banda jovem, talentosa e cheia de vigor (formada por Pedro Sá na guitarra, Marcelo Callado na bateria e Ricardo Dias Gomes, no baixo, teclado e programações) e acabou dando um novo fôlego na sua já consagrada carreira, se aproximando assim das novas gerações roqueiras. Enquanto o segundo intento (“Zii e ziê”, de 2009) foi recebido com certa estranheza pelo seu cunho excessivamente experimental, “Abraçaço” conseguiu aliar o Caetano “alternativo” dos discos anteriores produzidos com a banda Cê, com algumas pérolas que muito bem poderiam ter feito parte de algum dos seus clássicos discos já realizados em sua longeva carreira.

O público mais “maduro” que comparecia em peso a gravação do DVD da turnê de “Abraçaço”, nessa sexta-feira (16), destoava do povo absolutamente renovado que marcou presença maciça no show do Circo Voador, por exemplo, onde o baiano teve um dos públicos mais “selvagens” de toda sua história. Mas isso era perfeitamente entendível, já que no dia seguinte o show seria com pista, enquanto que o dessa noite era com a logística de mesas.

E independente do excelente repertório selecionado e da já conhecida competência característica da banda Cê, o que mais impressiona em Caetano Veloso no momento, é o fato da sua postura, aparência, vitalidade, em NADA remeter a um senhor de 71 anos. Sua voz esta absurdamente intacta, valendo constar que o tropicalista não bebeu água durante todo o show de aproximadamente duas horas. Jogou-se no chão, pulou, interagiu provocantemente com o público (ensaiou um strip-tease em “De noite na cama”) e arrancou muitos gritos e suspiros de LINDO e GOSTOSO, geralmente vindo de mulheres mais jovens. Realmente é impressionante, que continue assim!

O palco de cenografia simples (todo de preto com alguns quadros em cavaletes ao redor dos músicos e uma grande tela pintada ao fundo), mostra que sua composição foi feita para valorizar a belíssima concepção de luz do espetáculo, como na controversa e pungente “O comunista” (de “Abraçaço”), com seus variados tons avermelhados.

Por mais que as músicas da fase “Cê” tenham funcionado maravilhosamente no palco (como nos rocks “Odeio” e “O outro”, a maravilhosa “Gayana”, a melancólica “Estou triste” e os já recentes sucessos “Abraçaço”, “A bossa nova é foda” e “Quero ser justo”), foi nos clássicos “Eclipse Oculto”, “Você não entende nada”, “Um índio”, “Luz de Tieta” e “Reconvexo”, o momento que a casa literalmente veio abaixo, tendo sido todas bradadas em uníssono! Vale ressaltar alguns belos “lado B”, que soaram altamente revitalizados em novas versões, como “Coisa linda”, Triste Bahia” (do antológico álbum “Transa”) e “Escapulário”, que emendada com a base poderosa de “Funk melódico”, teve um final “guitarresco” apocalíptico de Pedro Sá, provocando mais uma grande ovação!

Enfim, se Caetano quisesse hoje sair de cena para uma cômoda aposentadoria, com certeza estaria fazendo num momento deveras especial, pois poucos músicos já devidamente consagrados NO MUNDO, arriscariam-se em mais um novo desafio (ainda mais roqueiro!) como esse encontro altamente repleto de criatividade que presenciamos com a banda Cê. Independente da dúvida do que se resultará daqui para frente, esse DVD vai coroar mais um grande momento da música popular brasileira protagonizado por Caetano Veloso.

Por Alessandro Iglesias

Foto: Isac Luz/EGO

 

 

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